Aprendizado | Liderança em constante transformação
Liderar é ser capaz de agir em rede. Fortalecer as relações de equipe, sem as barreiras do líder centralizador, para que o conhecimento seja compartilhado e as decisões dimensionadas a partir da troca de ideias e experiências.
Esta é a matriz das organizações que se capacitam com o objetivo de dominar o futuro de seus negócios. A tese acima é defendida por Peter M. Senge, um dos maiores especialistas em aprendizado organizacional da atualidade, que esteve recentemente no Brasil para falar no Fórum Mundial de Liderança e Alta Performance. Ele acredita que somente o aprendizado permanente e horizontal é capaz de dar à empresa instrumentos para se antecipar aos fatos e planejar as mudanças conforme os problemas vão surgindo.
O sucesso da gestão passa, portanto, pela relação aberta dos líderes com suas respectivas equipes e da visão compartilhada entre eles sobre o posicionamento da empresa no mercado. O processo de integração potencializa a criatividade coletiva, fundamental para enfrentar períodos de incertezas, em que a reengenharia de processos, de estruturas administrativas e de modelos de negócio deve ser pensada cotidianamente.
O professor de economia da Universidade Estadual Paulista (Unesp), Valdemir Pires, sintetiza a concepção moderna de liderança: “Liderar é ser capaz de agir em rede, com uma área se integrando à outra, formando um todo, cujos objetivos, rumos e metas se definem coletivamente”. Ele entende que não se pode mais imaginar empreendimentos bem sucedidos girando em torno de um indivíduo que comanda seus auxiliares. “Isso porque se foi o tempo em que uns poucos sabiam e coordenavam e muitos eram apenas comandados”, diz.
Com uma ponta de ironia, Pires não poupa críticas ao conceito ultrapassado de liderança: “Líder onipotente é piada. Embora se cultue muito o grande realizador, quem vive ou acompanha com atenção o cotidiano de grandes empresas, ou é protagonista de grandes realizações, sabe que o papel de um indivíduo pode até ser importante, em determinados momentos, mas como iniciador ou planejador. Porém, sem a justa adequação entre ele e sua equipe nada ocorre de excepcional, a não ser por pura sorte ou acaso”.
Para o economista, o conceito de liderança talvez seja imutável, referindo-se à capacidade de persuadir, de levar grupos rumo a objetivos, de fazer com que ações coletivas sejam conduzidas com sucesso. “Mas quando a este substantivo se acrescenta um adjetivo, é preciso situá-lo historicamente”, observa. Ou seja, no caso de liderança empresarial, é preciso ter claro de que modelo de empresa se está falando, “porque a empresa contemporânea é muito diferente das empresas de algumas décadas atrás”.
Transformação de mentalidades
Devido ao movimento veloz das transformações no mundo dos negócios, Pires alerta que o indivíduo sem capacidade de mudar corre sérios riscos de ser engolido pela realidade. “É muito difícil o mesmo indivíduo ter capacidade de mudar seu estilo de liderança. Mas não é impossível. O natural é que o indivíduo pouco adaptável seja engolido pelas novidades, sem se dar conta disso. A adaptabilidade é, hoje, um dos requisitos da liderança”.
Seguindo o raciocínio da adaptabilidade, o professor também coloca em xeque a relevância dada ao planejamento estratégico das empresas. “Quem nasce primeiro, o plano estratégico que busca lideranças adequadas, ou as lideranças adequadas que fazem o plano estratégico?”, questiona. Suas perguntas não param por aí: “Quanto de intuitivo e não de planejado tem um negócio bem sucedido, num contexto de mudanças rápidas? De onde vem a intuição para os negócios?”
Sua conclusão, nesse aspecto, é que parece melhor confiar numa liderança coletiva de qualidade, capaz de alterar planos sempre que necessário, do que seguir fielmente o plano estratégico (o planejamento tem que ser flexível). “É a boa liderança estratégica que monta sistemas de lideranças táticas e operacionais, e não um plano estratégico. O plano bom é apenas o instrumento da boa liderança”.
O debate sobre liderança empresarial no Brasil é muito novo e, por isso, muito distante de alcançar um ponto de equilíbrio. Para o economista, o país está se ajustando. “Embora se possa dizer que respondeu rapidamente à abertura de mercado nos anos 80, a abertura comercial só fez aumentar a demanda represada para a oferta de líderes adaptáveis, que vão para grandes empresas, já que as empresas médias e as tipicamente brasileiras são ainda arraigadas ao sistema familiar de escolha, baseado na árvore genealógica e não nos sistemas meritórios profissionais de recrutamento”. Mas até essas empresas, segundo ele, começam a mudar lentamente, porque o tempo é de transformação de mentalidades.
Uma empresa que aprende
· Supera o centralismo
· Capacita a equipe para a liderança
· Distribui responsabilidades
· Cria mecanismos de avaliação de resultados.
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